Cristianismo fácil!+

Samuel Waldron

“Entrai pela porta estreita porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontram.” - Mateus 7:13,14

Existe atualmente um cristianismo supostamente evangélico e fundamentalista, dedicado a tornar se tão cômodo e popular que aqueles que freqüentam as igrejas, mornos e indiferentes, o adotem. Fiel à sua missão, este “cristianismo” tem desenvolvido uma série de ensinos consistentes com o efeito comum de suavizar as arestas mais ásperas e os ângulos mais agudos do cristianismo autêntico. Tais doutrinas são altamente populares e amplamente aceitadas em toda parte. E porque não seriam, se elas apelam para aqueles que têm uma aversão natural ao mandamento de negar-se a si mesmos, e especialmente para aqueles que adoram os prazeres carnais desta vida?

Somente aqueles com estas tendências profundamente arraizadas podem explicar a “autenticidade” deste cristianismo fraudulento. O Senhor Jesus Cristo nos advertiu contra tais doutrinas, posto que o cristianismo verdadeiro haveria de ser, segundo Ele nos ensina, um caminho árduo e, sem dúvida, muito contrário à aceitação popular (“...porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontram” - Mateus 7:14) ao passo que sua imitação seria popular, fácil de seguir, porém condenatória. (“Larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” - Mateus 7:13). Seria o seu cristianismo, prezado leitor, um cristianismo autêntico ou fácil, popular, reprovável e condenatório?

INCONSISTÊNCIA SUSPEITOSA

Uma das mais suspeitosas qualidades deste “cristianismo fácil” de hoje é sua inconsistência. Ele ensina que o permanecer salvo é algo que só depende de Deus. Os crentes serão salvos indiferentemente de como vivam. Isso é o que tal “cristianismo” quer dar a entender por “segurança eterna”. Entretanto, quando se trata de tornar se salvo, então já é outra história. Tornar se salvo, diz este sistema, depende totalmente de nós. Por isso, segundo este ensino, nós mesmos temos a obrigação de fazer nossa decisão por Cristo. Tudo depende de nosso livre-arbítrio!

Obviamente esta maneira de ver a nossa salvação é desesperadamente inconsistente, exceto num ponto, é consistente apenas em criar um cristianismo lhano e fácil, pois geralmente o que os homens buscam é uma salvação sem custos e ainda mais cômoda e simples quando se trata da questão de mantê-la. O “cristianismo fácil” os acomoda por ensinar, ilogicamente, a “segurança eterna” e a salvação por decisionismo.

Acaso você já se perguntou: se as pessoas têm a capacidade própria de se tornarem salvas pelo livre-arbítrio, elas não poderiam também, pelo mesmo livre-arbítrio, decidir permanecer salvas? Se foi o próprio livre-arbítrio delas que as trouxe para dentro da fé, porque não poderá de igual maneira mantê-las dentro da mesma fé?

A verdade bíblica é que este “cristianismo fácil” está errado em ambos os casos: tanto a respeito de tornar se salvo quanto a respeito de manter se salvo. Em ambos os aspectos o crente está inteiramente dependente de Deus e de Sua graça soberana, embora ambos envolvam uma intensa atividade de nosso coração, mente e vontade.

O Senhor Jesus claramente demonstra o equilíbrio desta questão de ser salvo: “todo o que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim de modo nenhum o lançarei fora” (João 6:37). O equilíbrio é perfeito! O homem que vem a Cristo, vem porque o Pai o dá a Cristo. No entanto precisa e definitivamente tem que vir a Cristo. A Palavra de Deus leva este mesmo equilíbrio doutrinário ao assunto de permanecer salvo, quando o apóstolo Paulo diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12,13). Somos chamados a operar nossa salvação, porém é devido Deus operar em nós que nós a operamos!

Este equilíbrio bíblico é extremamente importante para evitar se um cristianismo acomodado, ao mesmo tempo que se mantém um cristianismo autêntico.

LANÇA O SEU VOTO

“Deus tem votado a seu favor. Satanás tem votado contra você. Você, porém, tem que lançar o voto decisivo”. Ao ensinar assim, muitos evangélicos animam os ouvintes do evangelho a crerem que para ser salvo, é uma simples questão de tomar uma decisão por Cristo, feito possível por nosso livre-arbítrio. Tal ensino é perigoso e inconsistente com o evangelho!

O que há de errado em ensinar que “para ser salvo” tudo depende de nosso livre-arbítrio?

Está errado por estimular o orgulho, a vanglória de uma suficiência própria. Isso leva o homem a depender de uma crucial decisão por Cristo, feita por uma capacidade natural, nata em si mesmo! E essa é precisamente a atitude oposta àquela que o evangelho do Senhor Jesus Cristo requer. A avaliação que a Bíblia faz do pecador não é bajulante nem afetada! O Senhor Jesus Cristo afirma que “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer” (João 6:44). Paulo disse aos crentes em Éfeso que antes que a graça de Deus lhes fosse manifestada eles estavam mortos em ofensas e pecados” - Efésios 2:1. Um morto não decide por Cristo! Tal ensino da Palavra de Deus é de suma importância, porque declara haver esperança em Cristo apenas para aqueles que não podem encontrar esperança em si mesmos.

O ensino anti-bíblico deste “cristianismo fácil” é um erro perigoso por rebaixar as exigências do evangelho e obscurecer a natureza da verdadeira conversão. Ao fazer com que a conversão num ponto tão crucial dependa do livre-arbítrio do pecador, alheia à assistência e ajuda de outra fonte fora de si mesmo, estimula-o a crer que é auto suficiente para torna-la real. A fé bíblica e o arrependimento são rebaixados ao nível de uma simples decisão por Cristo, visto que as exigências de fé e arrependimento ultrapassam o alcance do chamado livre-arbítrio do homem morto em seus pecados. A verdade é que somente Deus, pelo poder da Sua graça, pode capacitar o pecador a crer e a arrepender se (Atos 5:31; 2 Timóteo 2:25).

Não descanse satisfeito nem se deixe ser enganado por uma decisão por Cristo que carece da fé e do arrependimento outorgados pela livre graça de Deus.

FÉ SIMPLISTA

A “fé simplista” é um dos ensinos populares do “cristianismo fácil”. Semelhante aos demais ensinos falsos, a “fé simplista” é uma perversão da verdade. A Bíblia ensina, e também nos ensinaram Martinho Lutero e a Reforma, que somos salvos por Deus somente pela fé em Cristo. Reconhecemos 0que a salvação é somente pela fé. A pergunta é: fé simplista ou fé bíblica?

A fé bíblica demanda e produz uma mudança custosa e radical na vida do crente. Sua essência é uma entrega total a Cristo. “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (Mateus 10: 37,38). O gêmeo siamês desta verdade é o arrependimento. “Produzi, pois, frutos de arrependimento... E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore pois que não produz fruto, é cortada e lançada no fogo” (Mateus 3:8,10). A marca de distinção desta fé bíblica é que ela produz boas obras. Porque assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26). “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma; mas sim fé que opera por caridade” (Gálatas 5:6).

Se você tem sido ensinado que pode ter Cristo como seu Salvador sem que necessariamente O tenha como seu Senhor, se tem sido ensinado que a salvação é simples como o ABC, se alguém lhe tem assegurado que uma momentânea decisão salvará a sua alma, então, amigo, você tem sido ensinado os princípios da fé simplista. Se pensa que esta qualidade de fé o salvará, está enganado!

LIVRES DA LEI

Esta frase de uma canção evangélica muito popular, é o epítome do ensino do “cristianismo fácil”. A canção tem sido caricaturizada como segue: “Livre da lei! Oh feliz condição. Peço o quanto quero e sempre terei salvação.” Tristemente isso é exatamente o que significa para o “cristianismo fácil”, o ser libertado da Lei.

Não estaria o crente, enfim, livre da Lei? Certamente que sim! Está livre da lei judicial e da lei cerimonial dadas a Israel. Está também livre da lei moral quanto a méritos para salvação. Por conseguinte, as Escrituras dizem: «porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Romanos 6:14). Todavia o crente está debaixo da lei moral revelada nos Dez Mandamentos como regra de vida. Noutras palavras, o crente obedece a Lei como uma fonte autoritária e reguladora recebida do Salvador para sua vida.

O Novo Testamento exige tal observância da Lei! A “circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus” (1 Coríntios 7:19). “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei” (Romanos 3:31). “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Romanos 7:12).

A libertação da lei oferecida pelo “cristianismo fácil” conduz à escravidão ao pecado! O verdadeiro crente diz: “E andarei em liberdade, pois busquei os teus preceitos” (Salmo 119:45).

SEGURANÇA ETERNA

O moderno evangelho do “cristianismo fácil” se tem dedicado a uma religião sem esforços e livre de cuidados. Ele inventou a doutrina da “segurança eterna” que afirma: “uma vez salvos, salvos para sempre”. Com tal segurança, muitos professam ter tomado o trem que vai diretamente para a glória; agora portanto, podem deixar se relaxar e ir dormir um bom sono. Tendo feito o seu depósito no banco da salvação, agora estão livres para gastar o resto do seu dinheiro como melhor lhes apraz.

Essa é uma doutrina falsa! Em nenhum lugar a Palavra de Deus ensina que uma vez nascido de novo, o homem pode desenfrear se em lascívia da carne, ser mundano como queira, e ainda estar seguro de que chegará ao céu. Pelo contrário, ela ensina: “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Romanos 2:13). “Se alguém não estiver em mim”, diz Jesus, “será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem” (João 15:16). O apóstolo Pedro adverte: “Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo o, desviarem se do santo mandamento que lhes fora dado. Deste modo sobreveio lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: “o cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (2 Pedro 2:21, 22).

Que se dizer, então? Porventura não existe nenhuma segurança para o crente de que ele chegará à glória? Certamente que sim! Mas esta segurança é ensinada na doutrina da Reforma, chamada “a perseverança dos santos”. As Escrituras ensinam que todos aqueles que são salvos perseverarão em santificação e que, finalmente, serão salvos. Esse é o grande conforto do verdadeiro crente, porém não pode ser daqueles que, professando ser crentes, vivem vidas descuidadas e licenciosas.

Se a sua esperança se baseia numa decisão que você fez no passado, a qual no entanto não se manifesta no presente por uma vida nova e transformada, sua alma não está segura! Não permita que tal segurança falsa o destrua!

CRENTES CARNAIS

A teoria do “crente carnal” é outro dos ensinos do “cristianismo fácil”, desenhado com o propósito de remover a pressão de sobre o freqüentador típico de igrejas dos nossos dias. Sua grande “vantagem” é que alivia a pressão dos que ensinam tal cristianismo. Tempos atrás, se um “convertido” continuasse na mesma maneira de vida anterior ou se voltasse atrás para uma vida ímpia, teriam o considerado um hipócrita ou apóstata. Hoje são chamados “crentes carnais”, o que vem a ser bastante conveniente para as estatísticas do evangelista e também serve para evitar a dolorosa avaliação de sua mensagem e de seus métodos.

Como se define esta teoria do “crente carnal”? Que os seus defensores a expliquem! Dizem: “Depois de você ter convidado Cristo a entrar em sua vida, é possível que ainda venha a retomar o controle da mesma. Em 1 Coríntios 2:143:3, o Novo Testamento identifica três classes diferentes de pessoas ... Estas três classes são: a do “homem natural”, a do “homem carnal” e a do “homem espiritual”. O “homem carnal” é aquele que recebeu Cristo em sua vida, mas não está vivendo uma vida dedicada a Deus e, estando em rebelião contra o senhorio de Cristo, tem de novo tomado o controle de sua própria vida.” Essa teoria tem sido ensinado nas notas de uma Bíblia popular e nos folhetos de uma organização evangelística bastante conhecida. Por esta razão muitos se consideram crentes quando, na verdade, estão ainda sob a ira de Deus. Como falsos profetas seus ensinadores clamam: “Paz, paz, quando não há paz.” Veja Jeremias 6:14 e 8:11.

Não se deixe enganar por eles! Examine as Escrituras. O Novo Testamento inteiro testifica contra essa teoria. Leia Romanos 8:1 17, Efésios 5:3-7 e Gálatas 5:19-26. Gálatas 5:24 é o ápice do ensino destas passagens “E os que estão em Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” Se a sua natureza pecaminosa ainda não tem sido crucificada pela graça de Cristo, você não é um “crente carnal”. Você simplesmente não é crente, mas precisa tornar se crente.

A idéia de que uma pessoa pode ter Cristo em sua vida sem que O tenha entronizado, é o âmago da teoria do “crente carnal”. já vimos, portanto, que esta doutrina perigosa é contraditada por todo o Novo Testamento. Como, então, interpretarmos 1 Coríntios 3:1-4, seu suposto texto de prova? Será que esse texto confirma essa teoria?

O apóstolo Paulo não só foi inspirado, como também estava perfeitamente sadio em sua mente para não se dar a contradições no espaço de poucas linhas. Na mesma Epístola o apóstolo faz perfeitamente clara a sua opinião concernente a tal teoria. “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Coríntios 6:9-11).

O que Paulo diz em 1 Coríntios 3:1-4 é que os crentes podem agir, e às vezes agem, como se fossem mundanos e não convertidos. “Não sois porventura carnais? Não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: “eu sou de Paulo”, e outro: “eu de Apolo”, porventura não sois carnais?”

Uma coisa é que um crente, em algum tempo e em alguma área de sua vida, aja como uma pessoa não convertida. No entanto, quando o homem carnal é a característica dominante da vida de uma pessoa, então “a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte” (Apocalipse 21:8). Que Deus o livre de ir para o lugar destinado aos “crentes carnais”!

SAÚDE E RIQUEZAS

O mais recente desenvolvimento do “cristianismo fácil” é o chamado evangelho da “saúde e riquezas”. Este evangelho ensina que, devido Deus amar a Seus filhos, não é de Sua vontade que eles sejam pobres e doentes. Todos os crentes poderiam ser sadios e ricos, se tão somente pudessem crer que assim é como Deus quer, devendo, portanto, reivindicar Suas promessas! Alguns realmente chegam a crer que uma casa luxuosa, completa com piscina e tudo o mais, poderia ser sua se tão somente cressem em Deus para obtê-la. Outros crêem que seus familiares enfermos com doenças incuráveis, poderiam sem dúvidas, ser curados se eles reivindicassem a sua cura pela fé.

É claro que as falsas doutrinas são, freqüentemente, verdades levadas ao extremo. Existe um elemento de verdade neste “evangelho da saúde e riquezas”. É verdade que Deus pode fazer nos saudáveis e até mesmo ricos em resposta às nossas orações! E é verdade também que vidas piedosas terão a tendência de produzir corpos saudáveis e vidas prósperas. As Escrituras nos advertem contra muitos pecados que podem minar a nossa saúde, tais como o uso imoderado da alimentação, do álcool e do tabaco. O fruto do Espírito é temperança (Gálatas 5:22). Aqueleque tem sido um crente desde a sua mocidade, em geral parecerá muito mais jovem, 25 anos depois, do que seus companheiros!

As Escrituras também ensinam o uso diligente, o esquivar se do desperdício e dos excessos no uso do dinheiro. Tais qualidades tendem a produzir prosperidade. “A mão do diligente enriquece” (Provérbios 10: 4).

Saúde e prosperidade são coisas boas. São produzidas por um viver piedoso. Isso é ensinado pela Palavra de Deus. Contudo o evangelho de “saúde e riquezas” não é. Nada tem a ver com o evangelho do Senhor Jesus Cristo que adverte a todo o homem, a contar o custo antes de tomar a cruz e segui-lO (Lucas 14:25-33). O evangelho de “saúde e riquezas” contradiz as mais básicas realidades da Palavra de Deus.

Haverá perseguição, asseverou Jesus. “Bem- aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, porque deles é o reino de Deus” (Mateus 5: 10). As perseguições freqüentemente arruinam tanto a saúde como as riquezas dos justos.

Existe também o pecado que ainda permanece no crente. Saúde e riquezas talvez não venham a ser do nosso melhor interesse! Somos nós porventura mais santos que o apóstolo Paulo? “E para que não me exaltas se... foi me dado um espinho na carne... para me esbofetear. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse me: a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12:7-9).

Há também o fato de que todos os crentes morrem. Quão tolo é pensar que todos os crentes morreram porque nenhum deles teve fé suficiente para escapar da morte! Não! É da vontade de Deus que os crentes morram. Por conseguinte, se o supremo e mais fundamental de todos os males é da vontade de Deus, então a pobreza e a enfermidade também o sejam.

Em última análise, o problema com o “evangelho de saúde e riquezas” é apenas uma questão de tempo, pois após o retorno de Cristo, Deus aperfeiçoará a saúde e concederá riquezas indizíveis para todo o Seu santo povo. Quando, porém, essas bênçãos são ensinadas como bênçãos para o presente século, tal doutrina pode resultar num ensino realmente horrendo, visto que fomenta esperanças falsas.

Quando essas esperanças são destruídas este ensino adiciona um peso de culpabilidade aos já existentes agravos da doença e da pobreza erroneamente sentir se culpado por lhe haverem dito que sua falta de fé foi o impedimento que se interpôs entre eles e o gozar de boa saúde e de bens materiais. Que Deus o livre da brutalidade deste ensino proclamado pelo moderno “cristianismo fácil”.

A PROFECIA E A TRIBULAÇAO

Outra característica do “cristianismo fácil” é a sua fascinação pela profecia. Outros tópicos importantes talvez atraiam as multidões, porém a profecia lotará a casa! O fato é que o esquema popular profético apela à comichão carnal de muitos cristãos, professos. Alguns que crêem e ensinam este esquema são cristãos sérios, mas o esquema em si é feito sob medida para o “cristianismo fácil”.

Este é o caso porque o esquema ensina que os cristãos não passarão pela grande tribulação. A Bíblia ensina que logo antes do fim desta dispensação um breve período de impiedade acentuada, de violência e de perseguição ocorrerá antes de Cristo voltar para arrebatar o Seu povo. Muitas vezes esse período é chamado de “a tribulação”. Do período primordial da história da Igreja até meados do século dezenove todo mestre cristão ensinou que a Igreja vai passar pela grande tribulação. Isso não era surpresa para a Igreja visto que ela sabia o tempo todo que “através de muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22).

Tal perspectiva, contudo, era totalmente inaceitável para os seguidores do “cristianismo fácil”. Portanto, o ensino popular tornou se que Cristo viria secretamente antes da grande tribulação para arrebatar a Sua Igreja do mundo. Assim “confortados”, tais “cristãos” foram liberados para mergulhar na curiosidade sobre a profecia, seguros no conhecimento de que a grande tribulação aconteceria após a retirada deles da terra. Tal curiosidade foi inútil, pois por definição não podia ser aplicada ao seu caso pessoal.

Surpreendentemente, esse ensino tornou se popular, a despeito do fato que a Bíblia nunca o afirma e na verdade ensina o oposto em linguagem mais clara (1 Tessalonicenses 4:13-5:11; 2 Tessalonicenses 1:5 10 2:1 12; Mateus 24:29,51; Lucas 17:22-3). Oh, o poder do coração para enganar a si mesmo! Porventura você tem o tipo de cristianismo que pode levá-lo ao reino de Deus por meio de muitas tribulações? Somente tal cristianismo o salvará!

A PROFECIA E O DIA DO JUÍZO

Muitos seguidores do “cristianismo fácil” se deleitam em estudar as profecias. As profecias bíblicas, no entanto, têm o hábito fastidioso de freqüentemente retornar ao assunto do futuro dia do Juízo Final. As palavras, “cada qual será recompensado de acordo com suas obras”, são repetidas na Bíblia com constante freqüência. Este fato se torna, para as consciências inquietas dos que freqüentam as igrejas, um meio de estragar todo o prazer! Para socorrer, vem então um esquema popular de profecias ensinado nas notas de uma certa versão da Bíblia, bastante conhecida. Este esquema ensina que existe um programa múltiplo de julgamentos não um só. Que enorme alívio esta teoria traz! Permite distrair suas consciências da grande verdade de um julgamento final por estudar um número diverso de julgamentos, que comodamente se adapta ao sistema. Esta teoria ensina, ademais, que não serão as suas obras o padrão de medida que determinará seus destinos eternos, quer seja nos céus ou no inferno. Oh, não! Se uma vez no passado eles fizeram sua “decisão por Cristo”, irão a um julgamento reservado somente para os crentes. Suas obras tão somente determinarão quão grande será a sua bolsa de galardões. Se estão felizes com um modesto palácio na nova Jerusalém, já não necessitam preocupar se com vidas santas e com boas obras.

Tal ensino não só obscurece como também perverte o ensino bíblico sobre o julgamento divino, e põe em perigo as almas dos homens. Somos julgados por causa das nossas obras, visto que as nossas obras demonstram o nosso caráter! Uma pessoa cujo caráter e obras são degenerados, é alguém que nunca foi convertido! Disse Jesus: “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo seu fruto se conhece a árvore... Mas eu vos digo que toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado” (Mateus 12:33-37).

Sim, haverá um julgamento pelo qual as nossas obras determinarão se somos ou não somos crentes genuínos, e se nossos destinos serão nos céus ou no inferno (Mateus 25:31 46, Atos 17:31, João 5:28, 29, Romanos 2:7-10, 2 Pedro 3:3-13).

NÃO JULGUEIS

Somos uma sociedade tolerante. Já nada mais nos irrita; nada, exceto alguém que não seja tão tolerante como nós o somos! Podemos tolerar todas as coisas, com a exceção daqueles que não podem tolerar todas as coisas! Não admira, pois, que o nosso versículo predileto é Mateus 7:1- “Não julgueis para que não sejais julgados.”

O novo “pecado imperdoável” é “julgar”. E que “bênção” este novo mandamento tem sido para os pregadores deste “cristianismo fácil”. Os hipócritas podem alardear suas violações da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, ostentar se como cristãos, livres de desafios. Ninguém jamais ousaria chamar lhes de hipócritas pois, - que horror! - isso seria julgá-los!

Dizer hoje em dia que alguém está atuando erradamente é pedir que seja censurado. “Não julgueis!” Seria dessa maneira que devemos interpretar Mateus 7:1? Claro que não!

Isso significaria que teríamos de desistir de todo discernimento espiritual, a fim de podermos ser “crentes caridosos”. Cinco versículos mais adiante Jesus diz: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas” (Mateus 7:6). Este mandamento pressupõe o exercício de discernimento espiritual. Logo em seguida o Senhor diz: “Acautelai vos, porém, dos falsos profetas... por seus frutos os conhecereis” Mateus 7:15,16. Outra vez Jesus requer discernimento espiritual. Obviamente, de acordo com o Senhor Jesus, não é “julgar” se concluirmos que determinada pessoa seja um falso profeta.

Seria porventura nossa obrigação ocultar tais discernimentos, mantendo os para nós mesmos para evitar o “julgar”? Enfaticamente, não! Mateus 7A não ensina que é pecado confrontar e, se necessário, expor publicamente o mal. Se assim fosse, como poderia Jesus dizer: “... se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-O”? Como poderia o Senhor em continuação dizer: “E se não as escutar, dize o à igreja”? (Mateus 18:15,17). Como poderia Paulo, o apóstolo do Senhor Jesus dizer: “Não julgais vós os que estão dentro”?... Tirai pois dentre vós esse iníquo” (1 Coríntios 5:12,13).

Mateus 7:1 não nos proíbe de formar ou expressar nossa opinião sobre determinados homens hipócritas. Jesus expressa Sua opinião nessa mesma passagem. Em Mateus 7:5, Ele diz: “Hipócrita.” João Batista expressou sua opinião a respeito dos fariseus publicamente na cara deles: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?” (Mateus 3:7). Nós temos que fazer o mesmo. Nesse mesmo capítulo (onde somos exortados: “Não julgueis”) o Senhor Jesus nos adverte: “Acautelai vos, porém, dos falsos profetas ... Por seus frutos os conhecereis” (Mateus 7:15,16, 20).

Já chegou a hora para os cristãos deixarem de ser presos de tal interpretação falsa, e de lidarem drasticamente com o pecado. “Os que deixam a lei louvam o ímpio; porém os que guardam a lei contendem com eles” (Provérbios 28:4).

Então que quer dizer Mateus 7: 1? Nesse contexto Jesus está proibindo formar ou expressar conclusões sobre outros por aqueles que não querem aperceber se dos seus próprios pecados, nem tratar deles. Mateus 7:3 5 diz: “E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: deixa me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.”

Se, na base de Mateus 7: 1, você recusa a formular ou expressar, quando necessário, opiniões morais, então está confessando que repugna aperceber se dos seus próprios pecados e tratar deles. A recusa a exercer discernimento moral é uma confissão de falência moral! Que Deus o capacite a deixar de tolerar o pecado em si mesmo e em outros, pois o mesmo prejudica você e eles!

CONCLUSÃO

Surpreendente, não é? Quão facilmente o cristianismo tem mal entendido as Escrituras! Quão incrivelmente ele tem ignorado a lógica devido esse mal entendimento! Quão completamente ele tem eliminado a necessidade para uma vida de comprometimento e negação de si próprio. Quão astutamente ele se tem protegido dizendo aos seus críticos que são culpados do pecado de “julgar”! Basta! Chegou a hora de dar nome correto a esse sistema de ensinamentos! Não é cristianismo histórico. É o substituto moderno cristianismo fácil. Vivido e praticado, ele não é cristianismo bíblico de forma alguma, pois não salvará ninguém.

Para finalizar, permita-me fazer duas solenes solicitações a você. Primeira, peço que dê uma boa olhada no seu cristianismo. Você veio a Cristo através da porta estreita e está andando pelo caminho apertado? Se não, apelo a você que não ponha confiança no seu suposto cristianismo. Apelo a você que procure e descubra que só poderá ser salvo mediante o cristianismo bíblico e histórico. Segunda, permita me solicitar que você tome posição contra o cristianismo fácil. Você vê a necessidade de voltar para o cristianismo bíblico e histórico. Não confie a sua alma e as almas dos seus entes queridos a uma igreja que propaga o cristianismo fácil. Procure uma igreja que toma posição firme a favor do cristianismo do Senhor Jesus Cristo, no qual você entra através da porta estreita para andar pelo caminho apertado.

Autor: Samuel Waldron

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